segunda-feira, 20 de abril de 2015

ENTREVISTA: Marcela Campbell


Hey, bookaholics!
Quem lembra da Marcela Campbell, escritora do livro Aprendendo em Seis (resenha aqui) e parceira do blog?! Então, depois de ter entrado de cabeça na história, fiz essa entrevista com a autora pra que vocês possam saber um pouquinho mais sobre ela e sua obra, assim como eu fiquei sabendo. Queria agradece-la por tudo mesmo. Acho que dessa parceria cresceu uma amizade linda, sabe? E fico muito feliz com isso!
Mas enfim, vamos a entrevista?!

Aprendendo em seis é um livro incrível que nos ensina muita coisa. Mostra também esse mundo adolescente no ensino médio. Acho que cada leitor se identificará pelo menos com um deles. Mas e você? Com qual se identificou mais?!
Marcela Campbell: Antes de responder, obrigada pelo elogio e pelas doces palavras! Fico muito feliz em ver que um dos meus objetivos com o livro está dando certo! 
Bem, para mim é muito complicado dizer que me identifico mais com um, porque eu me identifico mesmo com um pouco de cada. Estava relendo o livro para um trabalho e, as vezes, me pego pensando: “Caramba, eu também sou assim” “Eu também tenho isso”. 
Por exemplo, tomarei cuidado para não dar spoilers, eu me identifico com o lado super protetor da Isabela, me identifico com a maneira como o Arthur enxerga as situações, me identifico com o lado focado do Noah, com o jeito bobão do Lucas, com a determinação da Sadie e com a intensidade da Lílian. 
Relendo agora o livro pela não sei qual vez, hahahaa, consigo ver muito mais coisa do que quando escrevi Aprendendo em Seis. Estou vendo que os personagens são bem amplos, e no meu caso, me identifico muito com vários defeitos e qualidades dos detentos. 

Sadie, para acabar com a dor, muitas vezes se apoia na automutilação. Isso é mais frequente na sociedade do que imaginamos. Claro, existem aqueles que fazem isso de maneira que nem sabem o quão sério é. Mas tem muita gente que faz isso porque realmente acha que a dor vai passar. O que você diria para essas pessoas?

Marcela Campbell: É uma pergunta muito bem elaborada. A automutilação está sendo bem falada ultimamente, mas não sei até que ponto está sendo expressado de uma maneira boa ou ruim. 

Muitas pessoas realmente acreditam vai passar, tanto que sentem que a dor passa e continua se automutilando. 
Mas o conflito volta, ele acaba voltando, porque você não está cuidado dele da maneira adequada. Parar de se automutilar é um trabalho muito demorado, muito complicado e muito difícil, porém, não é impossível. 
Primeiro, é preciso querer parar, depois, é necessário pedir ajuda. E é muito difícil pedir ajuda; seja para seus pais, para seus amigos, para quem for. É complicado, porque você se sente exposto. E ninguém quer se sentir assim. As pessoas normalmente querem se defender, no entanto, quando se pede ajuda, se abre a possibilidade para conversar sobre o assunto, se abre a possibilidade de ter apoio e não se sentir tão sozinho. Então, é algo que vale muito a pena. 
É muito importante ir ao psicólogo e se ele achar que precisa de um psiquiatra, vá ao psiquiatra. É um momento em que você tem que pensar mais em você.
Então, se você se automutila de alguma maneira, procura ajuda, porque muitas vezes as pessoas não têm noção de quão sério isso é e quão perigoso pode ser. 
Não é errado pedir ajuda, e se você estiver com medo, tenho certeza que sua coragem vai ser maior que ele. Você vai conseguir arranjar outras maneiras de se expressar, que não seja através da automutilação. Falaria também que a pessoa não é essa agressão, da mesma maneira que está se agredindo, ela pode lutar e parar. 


Nos conte um pouco sobre o processo de escrita do livro Aprendendo em Seis. Foi difícil? Quanto tempo levou? Costuma ouvir música enquanto escreve? Acrescente os detalhes que desejar!

Marcela Campbell: Escrever Aprendendo em Seis foi o cão. Imagina uma pessoa perfeccionista?! Agora imagina uma pessoa mais perfeccionista ainda?! Agora mais ainda?! E mais?! E mais?! Então, eu consigo ser mil vezes mais perfeccionista que essa última. 

Eu não faço nada enquanto escrevo. Nada mesmo. Só escrevo. Não escuto música, não vejo TV, não faço nada. É um trabalho entre a escrita e eu e ninguém mais entra. Hahahaha. 
Eu sou uma máquina para escrever, quando engato em algo, não paro. Vou escrevendo, escrevendo, escrevendo, até meu corpo cair em cima do teclado e dormir. Não sou do tipo de pessoa que acredita que tem que estar inspirado, apenas sento e escrevo. É algo que gosto de fazer e muitas vezes sai mais fácil que outras. Há momentos de escrever sem parar e momentos de ficar parada em frente ao computador e pensando “e agora?”, então, começo a digitar. 
E eu mudo meus capítulos a todo momento. Nunca está perfeito ou quase perfeito, sempre posso melhorar. Escrevo cada capítulo pelo menos três vezes, reescrevo quantas vezes achar necessário. E não me lembro de ter lido um capítulo que pensei “é isso, tá ótimo”, normalmente é “ok, vamos ver o que posso melhorar”. E quando termino é um “ok, está bom”, mas com certeza acabo voltando e acrescentando ou tirando alguma coisa. 
Aprendendo em Seis durou mais ou menos um ano para ser escrito, um pouco mais talvez. Enfim, comecei a escrever e odiei e quando estava no capítulo 11, apaguei e comecei do zero. Teve momentos que quis tirar um dos personagens. Outros momentos em que achava que seria mais fácil escrever em um ponto de vista somente, e realmente seria, mas, acabei mantendo o plano inicial. Teve momentos em que até pensei em escrever seis livros, cada um em um ponto de vista, mas também desisti. Imagina seis livros?! O pior é que eu tenho o que escrever, mas, achei que seria melhor manter o formato original e também não estava muito em meus planos escrever uma continuação. 
Eu quase desisti várias vezes, várias mesmo. Não consigo nem contar, se não fosse por algumas pessoas especiais, teria desistido. E foi muito bom ter terminado, foi uma mistura de sentimentos bem interessante. Felicidade, por ter terminado, alívio, mas também fiquei com saudades. Na verdade, eu sinto saudades até hoje, às vezes, acredita?! Por exemplo, agora que estou relendo, fico com saudades, mas depois, bola para frente. Hahaha. 


No início de cada capítulo, há um trecho de música. Como você decidia qual seria o trecho de cada um deles?
Marcela Campbell: Essa era uma das partes mais complicadas de escrever. Tinha música que era para ser e estava até no capítulo, mas tinha música que eu precisa ficar horas procurando, afinal, tinha que ser algo que o personagem gostasse, escutasse e dependendo do capítulo, precisava ter algo a ver. 
Não podia ser qualquer coisa. Eu tinha esse critério, tinha que ser de bandas que os personagens gostassem e poderiam dizer algo sobre o capítulo ou sobre a história do personagem. 
Teve músicas que eu só escutei quando escrevi o capítulo, pois nem sou muito fã. Era realmente um trabalho de pesquisa, de abrir página do google e procurar músicas que tivessem de acordo com a situação ou com o personagem. Muitas vezes, as músicas eram escolhidas depois que o capítulo já estava escrito, tinha momentos que eu já sabia qual seria. 
Tem músicas que tem pouco a ver com o capítulo e mais a ver com os personagens. 
Óbvio que meu gosto musical também foi para o livro, eu sou apaixonada pela Kelly Clarkson, por mim, o livro seria inteiro Kelly Clarkson. Eu amo essa mulher de maneira louca e ela está em alguns capítulos, principalmente de uma personagem, pois, algumas músicas eram perfeitas para o momento. 
Eu também tinha uma lista de música e artistas que combinavam com cada personagem, isso ajudava, depois podia procurar canções deles. 
A música era muito trabalhoso e cansativo, mas valeu a pena porque os torna mais reais. 

O bullying é algo também frequente no mundo adolescente - não só nele. Embora exista desde sempre, só agora começamos a ter maior conscientização. Se você encontrasse uma vítima de bullying, o que diria? E para o agressor?
Marcela Campbell: Sobre o bullying, assim como a pergunta da automutilação, acredito que falta muito para ter uma boa conscientização. Isso é algo que os adultos não lidam muito bem e muitos não acreditam na existência e fazem pouco caso, adolescentes não lidam muito bem também. É algo que ainda é muito relacionado a achismos, infelizmente. 
Eu encontro muitas vítimas e peço para que falem, porque todo mundo tem uma história para contar, todo mundo quer dizer alguma coisa, mas poucas pessoas têm alguém que sinta vontade de ouvir. E eu tento me mostrar como essa pessoa que quer ouvir. 
Depois, aconselho a falar com a família e com o colégio, o que é um passo muito difícil, porque a grande maioria tem vergonha de falar que sofre com o bullying, pois muitos responsáveis não levam a sério e não tomam providências, também não falam porque tem medo das consequência, tem medo de que o agressor volte com mais vontade de praticar a agressão. 
O bullying não é uma questão de bully e vítima, é uma questão de telespectadores também. Quando alguém ri de uma situação de bullying, essa pessoa está permitindo que isso aconteça, quando a pessoa fica omissa, seja por medo ou por indiferença, também está permitindo. 
Eu falo para a vítima pedir ajuda, falar com alguém, porque você fala, você demonstra que está ali, não está gostando e vai lutar para que isso termine, e isso pode inspirar muitas pessoas que tem medo de fazer a mesma coisa. 
Já com o agressor, gostaria de ouvir as causas, os motivos pelo qual resolve fazer isso. Depois conversaria, chegaríamos a um consenso, pediria para que parasse, com certeza. 
Em todos os casos, eu emprestaria meu livro para elas. Hahaha. Porque acredito que a literatura tenha essa capacidade de chegar nas pessoas! 
Para quem sofre, é muito importante falar, se fazer notar. É o que falo sempre, e para quem é o bully, pedir para parar, e principalmente, para a pessoa que assiste o bullying acontecer, não seja indiferente, tem pessoas que precisam de sua ajuda, uma para se sentir bem e a outra, para ser alguém melhor. Em todos os casos, todo mundo irá gostar das mudanças.

Podemos esperar livros novos pela frente?! Soube que você faz parte do Projeto Violeta. Nos conte mais sobre ele.
Marcela Campbell: Sim, podemos! Hahaha. Eu voltei a escrever, estou quase enlouquecendo! Mas, continuando, sem desistir. Eu saí da minha zona de conforto nesse novo livro, é algo completamente diferente do que sou acostumada. A forma de escrita, a ideia... Mas está valendo a pena, acho que o novo livro tem uma boa proposta e não penso em desistir. 
Depois que escrevi o livro, criei o Projeto Violeta, ele tem até o subtítulo: Aprendendo em Seis, da literatura à realidade; jovem, escola e sociedade. Porém, como é muito grande, a gente fala somente Projeto Violeta ou PV, para os íntimos. Esse projeto é para o ensino médio e para o fundamental II. É um projeto voluntário em que vou as escolas conversar com os alunos sobre assuntos que estão no livro, é um projeto principalmente anti-bullying, em que a gente conversa sobre o bullying, suas consequências, conversamos sobre o que é ser jovem, o que esperam da gente. É um projeto de acolhimento do jovem, é um projeto em que a gente quer ouvir o que os alunos têm a dizer. Nos mostramos presentes. 
Para o Ensino Médio, normalmente, a gente coloca um foco nas questões mais voltadas a sonhos, vestibular, conquistas. É uma época horrorosa em que parece que o mundo inteiro começa a te olhar, e pior, a te cobrar. É muita pressão e eles precisam ouvir palavras acolhedoras e falar. 
Também tem o Projeto Broto: Formando Violetas, que é do fundamental I e é um projeto de combate ao bullying, em que há uma dinâmica, depois uma reflexão. Mostramos como encontrar, como combater, ouvimos suas queixas, montamos um mural. 
Todos os projetos visam ouvir o que nos tem a dizer. 
Também temos o nosso blog em que falamos de assuntos ligados ao mundo jovem. 

Muito obrigada pela entrevista e pela parceria. Obrigada por toda a inspiração também! Enfim, gostaria de dar algum recado?!

Marcela Campbell: 5 segundos de silêncio para o “Obrigada por toda inspiração também”. Uma das coisas mais bonitas e fofas que já ouvi na vida! 

Nossa, eu amei essa entrevista! Muito obrigada pela oportunidade e por poder falar de assuntos tão bacanas! Quem quiser me contatar, pode entrar no meu site: www.marcelacampbell.com.br , quem quiser saber mais sobre os projetos Broto e Violeta, tem o site em que posto quase toda semana sobre coisas que estão acontecendo: www.projetovioletaeduca.blogspot.com.br, quem quiser conhecer meus trabalhos, tem um conto de Aprendendo em Seis, lá no Wattpad, chamados, Festas em Seis, não tem spoiler e é super bacana porque é um conto de festas de fim de ano, também tem os seis primeiros capítulos de Aprendendo em Seis e um conto que eu escrevi, chamado Para sempre nós. Aqui está minha conta no wattpad: www.wattpad.com/user/MaahCampbell94
Mais uma vez, muito obrigada pela entrevista, eu adoro conversar com vocês, e parabéns pelo aniversário de um ano desse lindo blog! Espero que ano que vem, a gente faça uma enorme festa para comemorar!
Obrigada pela entrevista e nos lemos por aí!
Eu que agradeço!! Que essa parceria dure muito ainda!! Te desejo todo o sucesso do mundo!


Mais informações:



Marcela Campbell é carioca de sotaque puxado, de fala cantada, que troca o “s” por “x” e que fala biscoito. Nasceu em 1994, apaixonada por tudo e por todos, pisciana, ama seu signo e reconhece que possui várias características positivas e negativas dele, estudante de psicologia, criadora e palestrante dos projetos anti-bullying Broto e Violeta. É a autora do livro Aprendendo em Seis, da editora Schoba, publicado em agosto de 2014.
Página do facebook: www.facebook.com/aprendendoemseis







Aprendendo em Seis conta a história de seis jovens da hierarquia carioca que ficam na detenção por exatas seis semanas em um dos melhores colégios da cidade do Rio.
Abordando assuntos comuns nessa fase da vida pessoal e escolar, a narrativa passeia por temas já conhecidos, como o bullying, mas prezando os sentimentos daqueles que o sofrem. Também fala sobre o culto ao físico, a compulsão alimentar, a competitividade, a dificuldade de ser aceito pela sociedade e por si mesmo. Além disso, levanta questões acerca de preconceitos, rótulos e problemas familiares. 
Apesar de todos terem suas próprias histórias, os seis encontraram na detenção uma maneira de atravessar todas essas dificuldades. Ali podem ser eles mesmos, sem máscaras nem mentiras, e entendem que, juntos, podem enfrentar o mundo.

2 comentários

  1. Que legal essa entrevista! Gostei muito das suas perguntas e também das respostas bem elaboradas e sinceras da autora! O livro parece ser bom, quem sabe eu não leia..
    Abraços e desejo ainda mais sucesso no blog!
    www.palavrasefogo.blogspot.com.br/

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  2. Mais uma vez, muito obrigada por essas perguntas maravilhosas!
    Te desejo todo o sucesso do mundo também! E que nossa parceria dure bastante! <3
    Mil abraços!

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