sábado, 30 de julho de 2016

Sobre os túneis pichados e a cidade imunda


A verdade é que não sei direito por onde estou andando. Algo me disse que esse túnel chegaria em algum lugar. Talvez não seja uma boa chegada, provavelmente vai combinar com a péssima partida. Parti. Apenas uma mochila bege pendendo em um dos ombros. Minhas sapatilhas já sujas por todas as vezes que andei por essa cidade imunda. A imundice inunda os bares, os becos e as casas. A sujeira vaza pelos narizes de cada indivíduo. Ninguém consegue se livrar dela. E eu tentei. Tentei limpar cada móvel. Tentei limpar cada cômodo da casa. Tomei mais de trinta banhos. Esfreguei a maldita esponja até a minha pele ficar vermelha. Vermelho cor de sangue. O sangue imundo que inunda o meu corpo agora. Não é mais algo visível. Talvez eu esteja andando em busca de redenção. Mas a verdade é que não me arrependo do meu ato. Reclamo da imundice mas acabo seguindo a linha da hipocrisia e me sujando também. Sujei-me de sangue, sim. Não nego. E agora, depois de limpa, ele permanece em minha memória. Minhas roupas denunciam uma garota de gênio forte, mas doce. Talvez o gênio forte tenha me feito tentar limpar um pouco da sujeira dessa cidade. E durante essa limpeza, tornei-me imunda. Agora busco por um lugar onde possa descansar. Não em paz, mas junto de todos aqueles que se sujaram como eu. Há alguém no fim do túnel, agora eu posso ver. Todas as luzes apontam para uma escada. Uma escada cheia de musgos. Uma escada completamente brilhante. Uma garota ruiva brinca em seus degraus. Eu estou a observando e caminhando em direção a ela. A garota derruba uma mochila bege. Nossos olhares se encontram. Eu sorrio. Ela derruba uma lágrima. E no meio de toda essa imundice, eu encontro alguém igual a mim. Tem sempre alguém te esperando do outro lado. 

Texto baseado na foto acima. Porque de repente, uma foto surge junto com uma história (ou um texto meio sem sentido) na cabeça do escritor. Dessa vez, não foi diferente. A foto é original do instagram da Sophia Abrahão. (sophiaabrahao)

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Resenha: O segredo de Ella e Micha - Jessica Sorensen


















Editora: Geração editorial
Ano: 2014
ISBN: 9788581301822
Páginas: 264
Nota: 3/5

O amor vai vencer?

O livro conta a história da protagonista Ella, que após a morte de sua mãe e um acontecimento envolvendo uma ponte, resolve fugir para Las Vegas e cursar a faculdade, deixando para trás a sua "vida antiga", junto com seu pai alcoólatra, seu irmão e Micha, seu melhor amigo - com quem vivia uma espécie de romance mal resolvido. Lá, ela faz uma nova amiga, porém essa amizade é concretizada após uma transformação completa de personalidade. A Ella explosiva, sombria e sarcástica passa a ser uma garota leve e calma. Entretanto, quando a protagonista volta para sua cidade natal e encontra Micha, é obrigada a reviver todo o passado e acaba aprendendo a encontrar um equilíbrio entre as duas personalidades. Ao longo do livro, a garota vai aprendendo a lidar com seus sentimentos. Além disso, o tal romance se desenvolve.

"Detesto espelhos. Não porque eu odeie o meu reflexo nem porque eu sofro de eisoptrofobia. Espelhos enxergam além da imagem. Sabem quem eu fui; uma garota que falava alto, negligente, que mostrava a todo mundo o que sentia. Não havia segredos. Mas, agora, eles me definem."

Não sei dizer muito bem se a história me agradou. É algo bem rápido de se ler, mas senti que foi o equivalente a nada. Apenas um romance de entretenimento completamente vazio. A história trata de temas pesados, como por exemplo, o suicídio, de uma forma extremamente sutil, leve e pior, superficial. A pior parte da história é narrada em praticamente um parágrafo e não há nenhuma mísera reflexão sobre isso. Ok, até existem reflexões e quotes que te fazem pensar. Mas sabe quando poderia ser mais?!

" – Toda vez que estou feliz, você sempre pergunta se estou bêbada ou algo parecido. As pessoas podem ser felizes sem a ajuda de certas substâncias. 
(…)
– A maioria das pessoas pode, mas nem todas."

O romance é extremamente clichê - mas isso eu já esperava - e surreal. Não consegui me identificar em nenhum momento e nem torcer para o casal principal. O casal secundário é muito mais interessante.
Apenas recomendo esse livro para aqueles que buscam algo para passar o tempo, pois não é nada profundo. Pelo contrário, é extremamente raso. Porém, divertido.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Fluorescente.


Ela estava esperando do outro lado do mar. Ficava se perguntando quantas ondas passaram no período de tempo em que ela estava ali, parada. E em um instante, em um piscar de olhos, a onda não era apenas uma onda. Parecia estar maior e mais brilhante. Fluorescente. Havia alguém ali no meio daquele túnel formado pelas águas. A garota, que antes tinha medo de se molhar, simplesmente entrelaçou suas mãos com os dedos que atravessavam as águas e se jogou. Foi um mergulho doloroso e só aconteceu porque ela se permitiu, por um instante, mergulhar. E foi contra seus medos. Simplesmente deu a mão para quem estava ali. E foi.
E se eu te dissesse que a onda me trouxe você?!

terça-feira, 5 de julho de 2016

A Rebelde Do Deserto - Alwyn Hamilton

Editora: Seguinte
Ano: 2016
ISBN: 9788565765992
Páginas: 312
Nota: 3/5

Que tipo de pessoa você é quando deixa alguém para trás?

Amani é uma das habitantes do deserto de Miraji. Seus pais morreram e agora a garota mora com a tia, porém sofre muito nas māos da única família que sobrou. Segundo as normas da sociedade, deverá casar-se com alguém bem mais velho em breve. Porém, Amani nāo aceita tais regras obsoletas e seu maior desejo é fugir para Izman, onde sonha em encontrar uma tia, amiga de sua māe. 
Enquanto isso, uma guerra acontece. Um príncipe rebelde que anuncia um novo deserto, uma nova aurora, novas regras e uma nova conduta. O exército gallan e do general estāo contra ele e os djinnis - humanos que possuem alguns poderes.


"Era muito difícil confiar num garoto com um sorriso daqueles. Um sorriso que me dava vontade de acompanhá-lo até os lugares sobre os quais havia me contado, mas ao mesmo tempo me deixava certa de que eu não devia fazer isso."

Em um concurso de tiroteio que Amani frequenta para ganhar dinheiro - vestida de menino, claro, denominando-se Bandido dos olhos azuis - ela conhece Jin. A partir daí, a trama se desenvolve. Ela acaba tendo que escolher muito bem em quem confiar e também quem abandonar. Além disso, uma reviravolta acontece e muda os rumos da história.

"Diziam que só pessoas mal-intencionadas andavam pela cidade de Tiroteio depois do anoitecer. Eu não tinha más intenções. Nem boas."

A trama é ágil, porém extremamente confusa. Não é um confuso saudável que, ao longo do livro, o leitor entende o universo criado e liga a história. É um confuso que permanece durante toda a narrativa e distancia o leitor do livro. O que é uma pena, pois o universo criado pela autora parece ser muito inteligente e foi apresentado de forma muito drástica, de maneira que não consegui entender praticamente nada.

"- Você é este país, Amani - ele disse, mais baixo agora. - Mais viva do que qualquer coisa deveria ser neste lugar. Toda feita de fogo e pólvora, com um dedo sempre no gatilho."

Além disso, muitos personagens foram inseridos na história e nenhum deles, além dos protagonistas, foram bem aprofundados. Isso deixou a narrativa rasa e meio sem sentido - uma vez que determinado nome aparecia uma vez e, quando aparecia de novo, já não sabia a quem ele pertencia.
Mas, tirando esse problema, tudo é bem dinâmico no livro e não te faz querer parar a leitura. Gostei da maneira como Amani foi desenvolvida, apesar de ter me irritado com ela certas vezes. Ela é uma protagonista forte e independente, sou apaixonada por personagens assim. Gosto de como ela deixa algumas pessoas pra trás, e depois passa a não deixar mais. A autora soube muito bem como inserir o sentimento dentro dela e como tudo a mudou. Esse crescimento com certeza é a melhor parte do livro.

"Eu tinha passado a vida sonhando que minha história começaria quando finalmente chegasse a Izman. Uma história escrita em lugares distantes com os quais eu nem sonhava ainda. No meu caminho até lá, eu me livraria do deserto até não sobrar nenhum grão de areia para marcar as páginas."

Não sei se recomendaria A Rebelde do Deserto, provavelmente não. Tenho uma certa dificuldade em lidar com enredos confusos, cheios de nome e pouca explicação. Também não tenho muita paciência de ficar anotando ou voltando nas páginas para ver quem é quem e coisa e tal. Mas, se você não se importar com essa confusão e complexidade e quiser tentar entender o mundo criado pela autora, te aconselho sim a ler A Rebelde do Deserto, por ser algo completamente diferente do comum no mundo literário.

domingo, 3 de julho de 2016

Quando Ela entra sem pedir

A vida tem uns momentos estranhos, não?! É como o clichê que todo mundo espalha por aí: vivemos em uma montanha russa, cheia de subidas e descidas. Mas elas esquecem de acrescentar os loopings, os giros, o momento em que você fica de cabeça para baixo, e claro, as surpresas. Porque cada momento desse é surpreendente. Cada mudança gera um sentimento diferente.
Nunca acreditei muito nessas coisas que acontecem de repente. Não do jeito como o universo me mostrou. Para mim, a morte viria de uma maneira gradual. Mas descobri da pior maneira possível que essa personagem não se comporta assim. Pois é, a personagem. A Morte, ironicamente, tem vida, e não bate na porta ou muito menos pede licença pra entrar. Ela simplesmente aparece e em um piscar de olhos leva um novo membro para o seu clube.
Se esse clube fica localizado no céu, no paraíso ou em algum lugar completamente escuro, sinceramente não faço ideia. Mas ele está cada vez mais cheio. Entretanto, é um tanto quanto desconfortante saber que esse lugar não é uma cadeira que pode atingir lotação máxima. Como uma sábia senhora disse, a vida também é um trem. As vezes, o trem para bruscamente e as pessoas simplesmente descem do vagão.
Esse não é um texto com pé e nem cabeça. Também não é um desabafo e muito menos cheio de sentimentos. A Morte traz um presente para quem vai e para quem fica. E não sei se isso seria um presente, de fato, mas algumas vezes, ela retira o sentimento das pessoas para que elas simplesmente não sintam. E quando são questionadas, respondem: não estou sentindo nada. E não é porque tem um vazio no peito ou significa indiferença, simplesmente não há sentimento. 
Nunca tive medo Dela. Mas também não sei se consigo lidar com os presentes que ela deixa. A gente tem que lidar, não é?!
Maldita seja.
Ou bendita seja?
Vai saber se o lado de lá não é melhor que o lado de cá.
Mas tem mesmo um lado de lá?
E é desse jeito confuso que esse texto termina. Como uma montanha-russa que é forçada a se encerrar porque há um pedaço de trilho quebrado no meio do caminho. Ou um trem que tombou.