quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Resenha: A menina que tinha dons - M. R. Carey

Editora: Rocco
Ano: 2014
ISBN:  9788568432020
Páginas: 384
Eles foram embora.

Melanie tem uma rotina traçada. As portas de sua cela se abrem e ela é presa em uma cadeira por dois homens enquanto outro aponta uma arma em sua direção. Vive em uma base militar e está acostumada com isso.
Após o Colapso - causado por um patógeno que infeccionou quase toda a humanidade e os transformou em famintos - são poucos os humanos restantes, que agora vivem nessa base militar.
Melanie adora a sala de aula e conviver com seus colegas - mesmo que não possa vê-los, devido a tira em seu pescoço - mas ela sempre espera ansiosamente pela aula da Sr. Justineau, que sempre foi muito carinhosa, atenciosa. A garota não entendia porque todo o resto olhava para ela e as outras crianças com tanta desconfiança e um medo do olhar. Afinal, ela não mordia - mas sua fome pedisse por isso.
Essa rotina é quebrada quando algo acontece e a base não é mais um lugar de segurança. Então Justineau, a Dr. Caldwell, Gallagher, Parks e a criança seguem em busca de uma saída.


A menina que tinha dons foi escrito pelo mesmo roteirista de X-Men e Hellblazer, a premissa distópica dos famintos (vulgo zumbis) é interessante - embora meio desgastada, mas pensei que o autor conseguiria fazer algo completamente diferente. O resultado? Decepção, infelizmente.
A escrita é bastante dinâmica, objetiva e simples, sem muitas descrições, sem dúvidas um ponto positivo, pois foi muito bem colocada. A narração é feita em terceira pessoa, com o foco em um determinado personagem, dependendo do capítulo, proporcionando uma visão muito mais ampla - coisa que o foco narrativo em primeira pessoa não permite - e trazendo uma das melhores partes do livro: o pensamento de cada um no início da jornada, logo após ao primeiro clímax. O cenário caótico é bem arquitetado e temos uma noção bem clara da paisagem.

"E elas viveram felizes para sempre, com muita paz e prosperidade". Assim termina a historia que ela escreveu, mas não é como termina a historia real."

Porém, também há muitos pontos negativos. Começando com alguns fatores desnecessários. Seguindo o exemplo de que eles estão sem abrigo, em perigo, com famintos a solta e o sargento consegue pensar na virilha da professora, dizendo que não sentiu nem prazer, devido a situação - ainda bem né?! 
Melanie tem 10 anos de idade e apesar de ser diferente, tem toda uma inocência - que é completamente aceitável, até certo ponto. Ela própria se trata como um objeto, deixa com que ordenem e ela simplesmente faz. É compreensível pelo medo da garota de fazer certas coisas, mas não é pra tanto. Aí entra a contradição, no início do livro, Melanie responde para o sargento, depois começa a ser um objeto - a professora Justineau a coloca em um pedestal, dizendo que todos fazem coisas estúpidas, mas ela não, entendendo-se que a garota é "perfeita" e não comete erros - e em certo ponto, mais a frente, é dito que Melanie é uma garota que se impõe, que respondeu ao sargento, mas na verdade, nesse ponto, ela está fazendo tudo o que é mandada e as vezes Parks nem precisa pensar nisso.

"Crescendo e envelhecendo. Brincando. Explorando. Como Pandora, abrindo a grande caixa do mundo e sem ter medo, nem mesmo se importando se o que estava dentro era bom ou ruim. Por que contém as duas coisas. Tudo sempre contém as duas coisas. Mas é preciso abrir para descobrir."

Gosto bastante da personalidade da professora, ela sim se impõe e é muito bonito ver o amor nutrido entre ela e Melanie, além de um segredo de seu passado que guarda muito sobre ela. Alias, amei o fato de que o autor nos mostra nas entrelinhas as "razões" pelas quais os personagens são o que são.
A narrativa é interessante e a premissa se cumpre, mas não há nada de inovador. É um livro legal de ler, até que flui bem se você estiver no humor, mas não há nada que te faça pensar: nossa, por essa eu não esperava, que livro incrível!
Fiquei bem frustada porque esperava bastante devido a resenhas de outros blogueiros e principalmente ao booktrailer. A narrativa é bem escrita, mas não conseguiu me prender, mexer comigo, acabou sendo só mais um livro.
O final  - incluo as últimas 5 páginas - foi um pouco deprimente, porque gostei tanto, achei tão inteligente e bem construído e fiquei me perguntando porque diabos o livro todo não poderia ter seguido esse modelo.
Recomendo se você quer um livro distópico para passar o tempo, com diálogos interessantes e inteligentes, mas um enredo esperado. Anteriormente, mereceria duas, mas o final faz com que A menina que tinha dons mereça três estrelas.


7 comentários

  1. Três estrelas! Eu comprei por que todo mundo falava bem e eu acho que de todas as resenhas que eu li a sua foi a única que deu menos de 4 ! Ainda não li não... eu achei que fosse O livro, por causa de quem escreveu... Enfim, ainda quero lê-lo , mas infelizmente ele não entrou para minha lista desse ano, quem sabe em 2016? De qualquer forma ele vai ter que ficar esperando pelo menos mais uns meses pra ser lido.

    beijos

    http://fofokicesliterarias.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Maah! Pois é, três estrelas. Foi bem decepcionante porque justamente todo mundo dava notas ótimas e ainda mais quem escreveu, né? Mas não gostei :/
      Beijoos!

      Excluir
  2. Acho linda a capa desse livro. Bem, nunca li livros que abortasse esse tema, mas mesmo tendo seus pontos negativos acho que daria uma chance para esse livro, pretendo ler ele algum dia. Mas, gostei bastante da resenha!

    Beijos!
    livrosdawis.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu também acho a capa linda!! Fico feliz que tenha gostado da resenha! Também não tinha lido nada do tipo e acabou que não foi uma boa experiência, infelizmente :/
      Mas acho que vale a pena dar uma chance, afinal a minha opinião pode ser diferente que a sua!
      Beijos!

      Excluir
  3. Oi Bia, tudo bem?
    Não conhecia esse livro, e apesar de ter ficado com certa vontade de lê-lo no inicio da resenha, essa curiosidade toda passou quando chegava nas ultimas linhas. Não sei se eu teria paciência para conhecer mais a fundo essa história, achei o tema interessante (mesmo sendo clichê em alguns momentos), mas a forma como tudo aconteceu me deixou meio sei lá.

    Beijos
    http://www.procurei-em-sonhos.com/

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Cássia, tudo sim e você?
      Então, justamente, o problema não foi a premissa, e sim o modo como ela foi trabalhada. É um livro legal de ler, mas todo fim de capítulo eu pensava "legal, é só isso?" aí não da aquela diferenciada boa que tem que ter..
      Beijos!

      Excluir
  4. Olá,
    Nossa, confesso que sua resenha acabou me deixando desanimada com relação a leitura da obra, sério. Confesso que nunca tive muita vontade de ler, ainda mais agora...
    Beijos.
    Memórias de Leitura - memorias-de-leitura.blogspot.com

    ResponderExcluir