sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Claustrofobia


Acordou em puro êxtase. Não sabia em que lugar estava até ter a visão completamente focada. Viu, então, as folhagens que a cercavam, junto com as árvores que pareciam ser grades de uma grande prisão. Com a cabeça quase explodindo, caiu de joelhos no terreno úmido. Não conseguia entender nada, eram muitas vozes de uma só vez. Olhava para os lados em busca de alguém, mas nem vultos foram vistos. De quem seriam aquelas vozes? Um turbilhão de palavras das quais não conseguia absorver nenhuma frase concreta, apenas palavras que sozinhas não faziam nenhum nexo. Um grito agudo seguido de risadas incontroláveis. A consciência se calou. É disso que chamam os humanos, certo? Uma força descomunal levou a garota floresta adentro. Não sabia o que estava fazendo, nem pra onde estava sendo levada. Escondeu-se atrás de uma árvore quase automaticamente ao ver, finalmente, um único vulto que passava rapidamente por ali. Seguiu o sentido contrario de seus passos e gritou por socorro. Todo o fôlego que restava foi usado. Ninguém a viu. As lágrimas caiam dos olhos da garota enquanto as pernas voltavam a guia-la. Só queria saber o que estava acontecendo e se livrar daquilo de uma vez. Tentou correr contra a correnteza, mas foi arremessada contra uma árvore. Soltou o peso do corpo e caiu no chão, a soluçar. Tentou gritar mais uma vez, mas nada saiu de sua garganta, como naqueles pesadelos em que nada é possível fazer quando algo horrível acontece. Só podia ser um pesadelo. Sabia que fracassaria, mas ainda assim beliscou o braço, nada aconteceu. Continuava no mesmo lugar. Promessa. Promessa. Promessa. Promessas devem ser cumpridas, não?! Desesperada, saiu em corrida novamente, mas acabou tropeçando e ficou estatelada no mesmo lugar. Exatamente no mesmo lugar em que acordou. O vestido, antes branco, agora estava sujo de terra e com alguns rasgos. As mãos sujas, os joelhos ralados, mas não havia sangue. De repente, sentiu-se fraca. Fraca demais para resistir. Levantou-se, secou as lágrimas e caminhou como se fosse uma corrida para algo a que almejava. Determinada, seguia pelo caminho de pedras. Um desenho em uma árvore chamou sua atenção, algo como um círculo com pontas. Um sorriso saiu automaticamente de seu rosto. Sentiu-se em casa. Sentiu-se destinada. Logo estava no ponto inicial novamente. Dessa vez não chorou, pediu apenas para que as vozes voltassem, elas a acalmavam, embora nenhuma palavra fizesse sentido. A sua única necessidade era buscar aquela grande árvore, encontrar aquele desenho. Então correu com toda a rapidez que podia e parou de sentir o chão. Mas não conseguia ir além. Seguiu o seu destino novamente. Caminhou em direção ao lugar que suas pernas ordenavam. Acordou em puro êxtase.
Beatriz Nogueira.
Happy hallowen!

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