Editora: Intrínseca
Ano: 2015
ISBN: 9788580576528
Páginas: 272
Não ouse abrir os olhos. Ouça além do rio. A insanidade está esperando para tirar suas vendas.
Caixa de Pássaros retrata um novo mundo. Um mundo em que não se pode mais olhar. Criaturas estão soltas por aí e, ao serem vistas, o indivíduo comete um ato violento seguido de suicídio. Torna-se insano por alguns minutos até dizer adeus a vida com "vontade própria"
Malorie vive nesse mundo com dois filhos, o Garoto e a Menina. Sim, esses são os nomes deles - a inteligência do livro já começa por aí. Vivem em uma casa completamente vendada. Ela, que antes era parte de um grupo de sobreviventes, agora está sozinha. Janelas e portas fechadas. Uma cerca ao redor da cama das crianças. Os brinquedos? Pedaços de madeira com rostos desenhados. Os filhos foram treinados para ouvir, nunca viram o mundo exterior. Malorie viu, sim, há quatro anos. Acontece que ela deve tomar uma decisão. Atravessar ou não o rio, completamente vendada, junto com as crianças de quatro anos. A finalidade? Encontrar um lugar melhor. Um problema. Segundo as instruções, em determinado momento da viagem, ela deve tirar a venda.
"O rio é um anfiteatro, pensa Malorie enquanto rema. Mas também é um túmulo."
Estava louca para ler Caixa de Pássaros e posso dizer que não me decepcionei, pelo contrário. Em muitos momentos fechei-o e tive algumas crises haha. O autor conseguiu construir um thriller psicológico incrível, com uma atmosfera sombria e tão realista que te faz sentar no barco a remo junto com Malorie, de olhos vendados e encarar tudo aquilo. Li uma parte do livro de madrugada e olhei umas três vezes para os lados, pois é. Outra coisa que me agrada é o fato de não ser um terror apelativo, aquele feito para assustar, sabe? É justamente por isso que tudo fica dentro da sua cabeça, girando, girando e girando. Isso gera o medo, o suspense. Nesse momento, inclusive, estou olhando para trás.
"(...) Os dias começam a se misturar. Foi por isso que fizemos o calendário na parede da sala de estar. Sabe, o tempo não significa mais nada, de certa forma. Mas é uma das poucas coisas que restaram das nossas antigas vidas."
Você não vai gritar, não vai assustar, mas vai absorver tudo aquilo e isso, meu caro leitor, vai te fazer pensar. Muito. (e ficar até com um pouco de medo, aconselho a não ler de madrugada haha)
Parece mesmo que estamos o tempo inteiro vendados por sabermos tanto quanto qualquer um sobre essa onda de suicídios e criaturas. A questão é, não fazemos a mínima ideia do motivo. Além disso, o autor escreve de maneira extremamente inteligente. Alguns questionamentos que Malorie faz se encaixam muito bem na narrativa e, ao meu ver, são essenciais. Há outros personagens um tanto quanto creepys e outros que nos fazem sentir raiva e ao mesmo tempo, entender o motivo.
Marlerman sabia exatamente quando deixar a narrativa com mais ação, ou então monótona, explicar ou não certas coisas. Mas as piores - e melhores - partes foram aquelas em que o perigo estava a espreita.
"(...) Assim como imaginou anos atrás, antes de as crianças terem nascido, quando a inércia da porta da frente a lembrou de que a insanidade estava à espreita."
Aqui em baixo, você encontrará spoilers, então, se não leu o livro, pule essa parte e vá direto para o final.
Ainda não me decidi sobre o final. Ao mesmo tempo em que amei a ideia de nos deixar no "vazio" - e simplesmente imaginarmos como, afinal, eram as criaturas, o que elas queriam e os motivos pelos quais faziam os indivíduos cometerem tais atos - odiei na mesma intensidade. Por isso foi meio decepcionante, mas surpreendente. Queria as explicações, pois criei tantas teorias ao longo do livro e queria testa-las. Pensei até que Olympia pudesse não existir, já que foi extrema coincidência um parto conjunto, duas grávidas na casa, no mesmo período da gestação. Mas as respostas não apareceram.
Enfim, amei Caixa de Pássaros e quero sair pelos quatro cantos gritando "leia!leia!leia!" apesar de ter me decepcionado um pouco com o final. Super recomendo! Estava precisando ler um livro bom assim, que me deixa olhando para o teto fazendo vários questionamentos.