Ano: 2016
ISBN: 9788535928358
Páginas: 360
Nota: 5/5
Carne de gaivota vicia.
Dante e seus amigos se mudam para um apartamento na zona sul do Rio de Janeiro, local onde farão suas respectivas faculdades. Dante cursa administração de marketing, mas acaba trabalhando em uma livraria. Hugo cursa gastronomia, mas nunca consegue um emprego digno de seus dotes culinários. Hugo, estudante de medicina, faz residência em um hospital público. Por fim, Leitão abandonou seu curso de Ciência da computação e engordou ainda mais, vive em frente do computador, mexe com softwares e gasta praticamente todo seu dinheiro comendo.
"Ali, era como se nada pudesse dar errado na minha vida. Eu não poderia estar mais enganado."
Um dia, a corretora liga para Dante e comenta que estão há seis meses sem pagar o aluguel — culpa de Leitão, o responsável pelos pagamentos. A dívida é extremamente alta e é impossível pagá-la. Até que eles têm uma ideia, criar um jantar secreto na internet. Mas Leitão distorce tudo e acaba oferecendo um jantar com carne humana, lembrando do enigma da gaivota. No fim das contas, todo o dinheiro já foi depositado e todos, meio relutantes, acabam aceitando realizar o jantar com carne de gaivota. E ele acontece. E depois, tudo começa a deslanchar até dar errado. Até dar muito errado.
"Através dos e-mails fornecidos, Leitão havia investigado a vida de cada um dos confirmados. Descobrira profissão, religião, relações familiares, gostos pessoais e endereço. É impressionante a quantidade de informações pessoais que disponibilizamos no universo on-line. Compras pela internet, check-ins no facebook, fotos no instagram, opiniões no twitter. Nossa impressão digital."
A escrita de Raphael Montes é genial. Minha admiração por ele começou em Dias Perfeitos e cresceu ainda mais com Jantar Secreto. Tudo em seu texto é pensado, nada é por acaso. Alguns plot-twists são previsíveis, mas você nem liga muito pra isso porque está completamente preso na leitura. Entretanto, outras reviravoltas são surpreendentes — principalmente, a do fim do livro. Quando você pensa que acabou, Raphael Montes joga a sua inocência em sua cara.
"É fácil condenar alguém, pulverizar a responsabilidade, montar teorias e encontrar culpados. Mas repito: você teria feito igualzinho."
O que mais me impressionou foi como ele mostrou que não existe certo e errado. Comer carne humana é algo extremamente nojento e talvez todo leitor, pelo menos, no início, julgue todos os envolvidos. Entretanto, se você estivesse na mesma situação que eles, você não organizaria os jantares? Eu sei que você teria feito tudo o que eles fizeram. Então parem de hipocrisia, diz o autor em sua narrativa.
"Depois de morto, todo bicho é igual. Você é engraçado, sabia? Se a carne vem naquele pacote, coberto no plástico transparente, você não se importa. Pega, frita e come sem nem pensar de onde veio. Agora fica aí, cheio de mi-mi-mi. Quer saber? A única diferença é que eu não sou hipócrita como você."
Quando terminei de ler, fiquei um tanto quanto perturbada. Simplesmente alguma coisa ruim se implantou no ar e eu não conseguia sair. Estava ficando sufocada. É isso um dos sentimentos que Jantar Secreto causa.
"A perversão não tem limites. O ser humano é um bicho escroto por natureza. Não importa o que digam, todo mundo é assim. Rico ou pobre, negro ou branco, velho ou novo, não interessa. Somos todos iguais em escrotidão."
O livro possui cenas de ação, violência, algumas cenas muito nojentas, mas é selado com humor negro e um sarcasmo digno. Jantar Secreto mostra a que ponto um ser-humano pode chegar em situações extremas, mas ainda mais, mostra que esse lado está lá, guardado em nós, pronto para escapar na primeira oportunidade.
Uauuuu... não fazia ideia do enredo desse livro.
ResponderExcluirAinda não tive oportunidade de ler nenhuma obra desse autor, mas tenho que concordar em dois pontos: 1 - realmente tornamos nossas vidas tão públicas, quanto qualquer celebridade. 2- bicho escroto é a melhor definição do ser humano, é só assistir o noticiário.
Beijos!
Gatita&Cia.