Diário do farol - João Ubaldo Ribeiro
Editora: Nova Fronteira
Páginas: 304
Ano: 2002
ISBN: 8520912427
"Diário do farol é o relato autoral de um clérigo amoral e inescrupuloso, que no outono da sua existência resolve inventariar seu rosário de maldades, perpetradas com requintes extremos desde a infância no seminário - de início, sob o pretexto de vingar os maus-tratos do pai; posteriormente, ainda mais sofisticadas, devido ao desprezo de uma mulher.Auto-exilado numa ilha onde pontifica um farol, o bilioso e mesquinho padre dialoga com o leitor para provocá-lo com uma realidade na qual não há bem ou mal, e assim tentar demovê-lo de qualquer noção redentora. Conseguirá? Para ele, não há transcendência, o Universo nos é indiferente e a todos foi negada essa Revelação. Não por acaso, o farol de sua ilha chama-se Lúcifer, ´aquele que detém a Luz´.O leitor é advertido desde a epígrafe: ´Não se deve confiar em ninguém´. A vida real é feita de rupturas, exceto para aquela maioria dos homens que perde a oportunidade de viver de fato por nunca romper com nada realmente importante, adverte-se. Num testemunho insidioso, que concilia situações hilariantes com outras de horror repulsivo e escatológico, somente o cinismo impera. Nisso, põe-se o padre a fazer troça dos ´católicos que acreditam nas besteiras do catolicismo´ e a manipular todos, fiéis ou descrentes, para atingir seus fins amorais, chegando à sofisticação de submeter-se voluntariamente a sessões de tortura para dar vazão a seus caprichos vingativos.
Um mal que - posto em tom neutro como só é possível por meio de uma arte superior como a literatura - nos permeia a todos e nos leva a refletir sobre nossa condição social e humana. Um mal na sua essência, que nada tem de panfletário e denunciador, que encontra solo fértil na sociedade e no sistema político atuais."
Diário do farol pode ser considerado o thriller psicológico mais pesado que li. Com um personagem principal sendo um psicopata extremamente meticuloso e inteligível, pensando em todos seus atos e não agindo por sentimentos. Seus atos e palavras - o livro é narrado em primeira pessoa - são colocados de maneira densa e nos fazem sentir repulsa. Acredito que por esse motivo muitos reclamem da leitura, parem o livro no meio e fiquem indignados. Esse é um livro que tive que ler para a escola e sim, fiquei com extremo nojo e indignação do protagonista, porém, ao mesmo tempo achei o livro extremamente genial, de modo a entender o que se passa na cabeça do faroleiro.
Em sua infância, o faroleiro presencia a morte de sua mãe, causada pelo próprio pai, que inclusive o maltrata dizendo que sempre quis ter um filho homem e ele com certeza não é esse filho. É possível perceber que esse trauma teve grande repercussão na vida do protagonista, de modo que, por ser ser oprimido, tornou-se opressor.
"A realidade é, sim, muitíssimo mais inacreditável do que qualquer ficção, pois esta requer uma certa arrumação falaciosa, a que a maioria dá o nome de verosimilhança. Mas ocorre precisamente o oposto. Lê-se ficção para fortalecer a noção estúpida de que há sentido, lógica, causa e efeito lineares e outros adereços que integrariam a vida. Lê-se ficção, ou mesmo livros de historiadores ou jornalistas, [b]por insegurança, porque o absurdo da vida é insuportável (...)"
O fato ainda mais interessante é que o faroleiro não comete seus atos por si só, ele escuta a voz de sua mãe morta e esse é o motivo de tudo. Ela pede vingança e é isso que ele busca o livro inteiro, cometendo vinganças de extrema crueldade e sendo aplaudido pela mãe. O protagonista sente falta da mãe, sente-se oprimido pelo pai e ficou extremamente chocado com a cena que presenciou - embora não tenha demonstrado - então precisa de um motivo.
Outro fato interessante é o modo como o protagonista trata o bem e o mal, dizendo que eles são as mesmas coisas, estão fundidos, de modo que, para ele, seus atos não são nenhuma atrocidade, está apenas buscando a justiça, enquanto veste seu fardo religioso e frequenta o seminário.
"Desejo estragar, ou macular definitivamente, sua falsa felicidade, se você se ilude em tê-la. Minha esperança é que ela possa mirrar ou extinguir-se inteiramente, para que você veja o mundo como ele é, ou enlouqueça, ou morra, ou ambas as coisas, pois quase todos, insisto, sobrevivem apenas porque crêem que não são sozinhos. São, sim. Você é sozinho e permanentemente ameaçado, e somente um voluntarismo animalesco lhe faz ver o mundo de maneira diversa. "
A sexualidade no livro retrata partes que me causaram bastante repulsa e a pergunta de que "como uma pessoa desse modo pode existir?" e então o mesmo responde "alguém como eu pode estar do seu lado agora" o que, meu caro, infelizmente é verdade.
Para contradizer tudo o que disse acima, deixo aqui uma pergunta: "será que tudo o que o faroleiro narrou é verdade? não estaria ele fazendo delírios e fantasias de como ele gostaria que tivesse acontecido?
Diário do farol é um livro extremamente inteligente, recomendado para aqueles com estômago forte e que querem entender ainda mais como os atos podem influenciar a vida de alguém, como traumas agem e a mente humana, além disso, a mente desse faroleiro que busca vingança, o psicopata.
Nossa, jura que você teve que ler esse livro pro colégio? Acho meio desnecessário pedirem livros assim pesados, na minha escola também davam cada livro que era difícil de engolir. Mas pra quem gosta do estilo, deve ser mesmo uma história boa e construtiva!
ResponderExcluirxx Carol
http://caverna-literaria.blogspot.com.br/
Tem post novo no blog, vem conferir!
Tive sim, concordo com você, não deveria ser obrigatório pois muitos não gostam nem conseguem ler livros assim!! Mas é bem interessante, apesar do soco no estômago!
ExcluirBeijos,
Bia
História top.
ResponderExcluiramei o livo... muito massa otima historia
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