Ano: 2017
ISBN: 9788592783297
Páginas: 344
Nota: 4/5
Violência gera violência?
O livro possui como principal plot a história de Alex Craft. Tudo acontece dois anos depois da morte de sua irmã, Anna, que foi estuprada e posteriormente assassinada. O livro se inicia com Alex dizendo que sabe exatamente como matar uma pessoa. Até aí já deu pra ver que é bem pesado, né? Além da história da protagonista, outros dois personagens são construídos: Efepê e Jack. Durante o decorrer do livro são tratados assuntos como cultura do estupro, feminismo, machismo, uso de bebida e drogas, entre outros.
"Vivo em um mundo em que não ser molestado na infância é considerado ter sorte."
A construção dos personagens é um tanto quanto fraca, principalmente da protagonista, uma vez que há várias pontas soltas na história. A única que possuiu uma construção forte foi a própria Efepê. A narrativa é rápida, porém leva um bom tempo para digerir o que se lê.
"Hoje a noite, usaram as palavras que conhecem, as palavras que não incomodam mais as pessoas. Falaram "vadia". Disseram para outra menina que colocariam o pau na boca dela. Ninguém protestou, porque esse é o linguajar que a gente usa. Mas aí eu usei as minhas palavras, organizadas em frases que calam fundo, e as pessoas prestam atenção; as pessoas ficaram de boca aberta. As pessoas não sabiam o que pensar. Meu linguajar é chocante."
O principal ponto positivo é a facilidade que a escritora teve de narrar uma história pesada colocando conflitos e coisas adolescentes no meio e usando uma linguagem coloquial usada pela maior parte dos jovens. Além disso, não é um livro militante que joga o feminismo na cara, e sim algo que te faz pensar (e muito). Mostrando não apenas o machismo e indo contra a cultura do estupro, mas revelando que as mulheres, muitas vezes, são inimigas entre si e acabam indo umas contra as outras e isso também não deveria acontecer. Tal fato é mostrado em uma das últimas cenas do livro, o que me fez ficar de boca aberta e em choque.
“Ter raiva cansa, mas sentir culpa não deixa a gente dormir.”
Todavia, junto com os buracos deixados na história, achei o livro um tanto quanto exagerado, as coisas que a Alex faz, a maneira como "coisas ruins e machistas" são jogadas no meio da história só para mostrar que estão acontecendo me deixaram um pouco com o pé atrás. Acho que não precisava desse exagero todo. Em contrapartida, ele pode até ser importante para que jovens que não entendam do assunto e leiam o livro passem a entender, então, por um lado, faz sentido.
"Mas "meninos são assim mesmo", é nossa expressão preferida e que serve de desculpa para tanta coisa, ao passo que para falar do gênero oposto, só dizemos "mulheres...", com um tom de desdém e acompanhado de um revirar de olhos."
O final me deixou impactada e cheia de lágrimas nos olhos, fazia tempo que um livro não me deixava assim. A (R)evolução das mulheres é um livro que todos deveriam ler para enxergar um pouco mais como funciona essa sociedade machista e opressora. Devemos nos unir contra isso.
Sobre a Alex e a justiça
O fato de Alex simplesmente matar aqueles que fizeram algum mal lembrou muito o meu livro, A Garota do casaco vermelho, e achei muito válido falar sobre isso.
Para Alex, ela estava fazendo justiça e protegendo sua irmã quando matou o seu assassino. Ou quando queimou um cara vivo. E a questão é: isso é certo? Não há resposta que consiga responder essa pergunta de maneira correta. Porque tudo é muito subjetivo.
Alex estaria cometendo um crime, porém é isso que acontece quando estupradores saem impunes porque simplesmente ninguém faz nada. Então, ela resolve fazer a justiça com as próprias mãos. Essas são as consequências.